sábado, 3 de outubro de 2009

Os Três Porquinhos, contado por um pai biólogo.


Postado originalmente em 15/09/2005 17:33

Esse texto tb não é meu. Só aproveitando o gancho das histórias infantis, essa é a história dos 3 porquinhos contada por um pai biólogo, ou seja, eu no futuro distante... rs... Meu filho vai adorar...

Era uma vez três sub-adultos de Sus scrofa, variedade domesticada, identificados como indivíduo 1, 2 e 3 e um adulto full breeding de
Canis lupus feral (LM, acrônimo de "lobo mau") que, por exigência das
táticas
de forrageamento peculiares à espécie, os vivia atormentando.
De acordo com o etograma da espécie, pôde-se verificar que:
O indivíduo 1 (I1) tinha doutorado e suas cinco produções mais significativas do currículo Lattes haviam sido publicadas em periódicos Qualis A
O indivíduo 2 (I2) havia sido jubilado por faltas em Biofísica e passara a estudar Filosofia.
O indivíduo 3 (I3) cursava o segundo ano de Biologia e ficava o dia inteiro a fumar maconha no centro acadêmico.
LM, na qualificação do Curso de Pós-Graduação em Comportamento
Agonístico Predatório, recebera grau A, muito embora sua nota mais se devesse
à entrevista do que propriamente à prova escrita, ao curriculum vitae
ou à prova didática.
Mas, nessa restrita distribuição geográfica, confinada a um
fragmento relictual de Floresta Temperada, onde essas espécies são endêmicas, o I1 contruiu seu abrigo, com cerca de 3 metros de altura por 10 metros
de comprimento e 8 metros de largura, portanto, com 240 m3 de volume.
Seu abrigo foi constituído de tijolos, aderidos por substância cimentante,tendo a cobertura superior preparada pela colocação de telhas cuidadosamente sobrepostas uma a uma, promovendo aceitável sustentação.
Já I2 fez seu abrigo por meio utilizando-se de material vegetal não identificado, algo resistente mas desprovido de técnica mais elaborada quanto ao método de construção.
Por sua vez, I3 contruiu um tosco aglomerado de fibras vegetais de Brachyaria lanceolata, espécie comum naquela região, entrelaçando as fibras de maneira tresloucada, tendo, porém, o cuidado de deixar uma enorme chaminé, para o devido escapamento de substâncias fumosas.
Um dia, LM foi até o teritório dos artiodáctilos e disse, em
interação agonística com I3 (segue a trancrição livre das vocalizações
emitidas. Sonogramas foram feitos a partir de gravações realizadas no local e
depositadas no arquivo sonoro da Universidade de Cornell, conforme material e métodos): - Uahahhhhhahaha, corra, I3, por que vou gritar, e vou
gritar e chamar a Polícia Civil pra denunciar o seu uso abusivo e porte portentoso de Canabis sativa.
Ao que I3 correu para sua espelunca, mas quando chegou lá, a Civil já estava perscrutando o seu sítio de repouso. Então I3 correu para o abrigo de I2.Mas quando chegou lá, encontrou LM à porta, batendo com força e gritando: - Abra essa porta, I2, ou vou gritar, gritar e gritar e denunciar ao Conselho Tutelar que você seduz meninos indefesos com um discurso neo-socrático sobre as virtudes sexuais dos grandes pensadores gregos.
Antes que I2 alcançasse a porta, esta foi posta abaixo por conselheiros tutelares que invadiram o abrigo entoando palavras de ordem e acompanhados de policiais militares armados até os dentes e loucos para baixar o cacete.
Ao que I3 arrebanha I2 e os dois se dispersam para a casa de I1.
Quando chegaram no abrigo de I1, este os recebe e os dois se prostram arfantes na câmara de entrada. I1: - O que houve?I2: - LM, acrônimo de Lobo Mau, MSc., destruiu nossos abrigos e, de acordo com as evidências apresentadas,muito provavelmente, quer se apropriar de nossos projetos de pesquisa e destruir nossas carreiras profissionais. I3: - Não temos para onde ir. Mas vamos enfrentá-lo, afinal sou Ph.D.
Tum-tum-tum-tum-tuuummm!!!!!(transcrição onomatopaica do som de batidas à porta. A gravação está depositada no arquivo sonoro da Universidade deCornell).
LM: - I1, abra essa porta e assine esse termo de co-autoria em todos os seus projetos de pesquisa, ou eu vou gritar e gritar e chamar os fiscais do Conselho Regional de Biologia da 3ª Região e acabar com a tua carreira de PhDeus!!!
Como I1 não abria (apesar da insistência covarde do graduando maconheiro e do biólogo frustrado e filósofo liberal), LM chamou os fiscais e
estes auditaram toda a produção científica e o acervo técnico de I1,
analisaram a veracidade de todos os itens de seu curriculum vitae documentado e nada acharam de errado.
Então LM gritou e gritou pela segunda vez, e veio o Green Peace juntamente
com o Ministério Público, analisando a legalidade da procedência do material
de seu abrigo ecológico e, também, nada de errado encontraram.
Cansado e esbaforido, o predador lupino adotou um comportamento agressivo extremo
(porém supercomum em etogramas): ele pessoalmente escalou o abrigo de I1 pela parede, subiu até a cobertura superior da antecâmara e começou, tresloucadamente, a arrancar as telhas.
Mas quando ele pulou para dentro da antecâmara, um indivíduo de Canis familiaris (cão-doméstico, da raça Pitbull) que vivia em interação positiva de protocooperação com I1, alojado na pós-câmara, farejou sua localização e partiu ao seu encalço em feroz e desabalada perseguição. LM saiu em disparada, uivando desesperado, enquanto o feroz pitbull latia ensandecido logo atrás. O pitbull logo o alcançou e, acometido da fúria típica dos indivíduos de sua raça, conforme amplamente divulgado em publicações científicas, lançou seus dentes afiados contra o pescoço de LM, o qual foi abocanhado de modo arrebatador, sendo seus tecidos dilacerados e sua vida esvaída de seu corpo.
Agora, levando em conta o descrito acima:
a) descreva com base no etograma de LM, sua interação antagonística com I1, I2 e I3;
b) de acordo com a teoria evolutiva neodarwiniana, justifique o comportamento de LM;
c) Cite exemplos de outras interações de protocooperação, levando em conta a relação de I1 com Canis familiaris.
d) A partir da análise do conteúdo estomacal do falecido LM, classifique-o no grupo trófico correspondente.

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